PolĂ­cia Federal apreendeu uma pepita de ouro na casa do senador da cueca

No momento da operação, o senador não soube explicar ou comprovar a origem da pedra

NĂŁo foi sĂł dinheiro na cueca e no cofre o que a PolĂ­cia Federal (PF) apreendeu na residĂȘncia do senador Chico Rodrigues (DEM-RR). Na operação, a PF tambĂ©m encontrou o que parece ser uma pepita de ouro. ApĂłs a ação na casa do senador, a polĂ­cia registrou em seu termo de busca e apreensĂŁo de uma “pedra, supostamente caracterizada como pepita de ouro, encontrada no cofre do quarto do senador”.

No momento da operação, o senador nĂŁo soube explicar ou comprovar a origem, tanto da pedra, quanto dos valores em sua residĂȘncia. Por isso, tudo foi apreendido. Havia R$ 10 mil e US$ 6 mil no cofre, alĂ©m dos R$ 33 mil escondidos nas vestes Ă­ntimas do senador. A soma resulta em R$ 70 mil, se convertidos os dĂłlares Ă  moeda brasileira na cotação do dia.

“Quanto aos valores, o senador nĂŁo soube explicar ou comprovar sua origem; e, da mesma forma, a origem da pedra, supostamente uma pepita de ouro, razĂŁo pela qual todos os objetos foram apreendidos”, disse a PF.

Somente dias apĂłs o senador informou que o dinheiro era para pagar empregados. Chico Rodrigues alega inocĂȘncia, mas se afastou por 121 dias do Senado, pressionado pelos colegas.

AlĂ©m de bens e valores, a PolĂ­cia Federal apreendeu um manuscrito contendo a descrição de um fluxograma relacionado Ă  mudança do secretĂĄrio de SaĂșde de Roraima, Francisco Monteiro, e a compra de respiradores, com valor de “1.800.000”.

A informação relacionada Ă  mudança na Secretaria de SaĂșde Ă© relevante para a investigação em andamento no Supremo, uma vez que a PF suspeita que a demissĂŁo do ex-secretĂĄrio de SaĂșde do Estado Allan GarcĂȘs, em fevereiro deste ano, teria sido arquitetada, para promover ao posto titular o adjunto de GarcĂȘs, Francisco Monteiro Neto. Monteiro Ă© descrito no inquĂ©rito como alguĂ©m que dava apoio Ă s demandas de Chico Rodrigues, assim como o servidor da secretaria Francisvaldo de Melo PaixĂŁo.

As apreensĂ”es pela PF tambĂ©m incluĂ­ram “7 laudas descrevendo uma planilha de cotação de preço de medicaçÔes e 11 materiais mĂ©dico hospitalares, localizadas sobre a mesa no escritĂłrio”, bem como “7 folhas de papel contendo relação de preço de materiais mĂ©dico hospitalares”. Os policias ficaram com um “caderno com timbre do Senado Federal, contendo vĂĄrias anotaçÔes, dentre elas a destinação de valores a vĂĄrios hospitais provenientes do fundo nacional de saĂșde, encontrados no quarto do senador”.

O inquĂ©rito apura fraudes em licitaçÔes e desvios de valores de contratos firmados pelo governo de Roraima para o enfrentamento Ă  pandemia de covid-19. A investigação aponta ligação entre o senador Chico Rodrigues e empresas que firmaram contratos vistos como suspeitos pela PF. Mensagens de um dos investigados, que resolveu entregar o esquema, apontam que o senador monitorava o andamento de contrataçÔes na pasta indicam que ele teve influĂȘncia na nomeação atĂ© de um secretĂĄrio.

Como o EstadĂŁo mostrou nesta quarta-feira, 21, uma das empresas sob investigação, Haiplan ConstruçÔes Comercio e Serviço LTDA, suspeita de irregularidades em contrato, apontada pela PolĂ­cia Federal como prĂłxima ao senador Chico Oliveira, vendeu ao governo de Roraima mĂĄscaras de proteção a um preço 26 vezes mais caro do que o custo original.

Uma nota fiscal emitida em 8 de abril pela Haiplan ConstruçÔes Comercio e Serviço LTDA mostra que a empresa cobrou R$ 879.219,00 do governo por 16.434 mĂĄscaras. Cada unidade saiu por R$ 53,50. Dias antes, em 17 de março, porĂ©m, a Haiplan havia pago apenas R$ 1,45 pela unidade das mĂĄscaras. O item foi adquirido de uma empresa sediada no Rio Grande do Norte, com um nĂșmero de mĂĄscaras semelhante, com ao custo total de R$ 26.710,00.

Em fevereiro, Chico chegou a perguntar a Francisvaldo: “VocĂȘ adiantou o pgto da Gilce/18-serviços?”. O funcionĂĄrio diz que sim, estĂĄ providenciando pagamento de R$ 2,6 milhĂ”es. “Tudo indica que o Senador estaria cobrando o pagamento da empresa Haiplan ConstruçÔes ComĂ©rcio e Serviços LTDA, diz a PF, no inquĂ©rito que apura as supostas irregularidades.

“A forma com que o senador cobrava o pagamento da empresa Haiplan em suas conversas com Francisvaldo indicam que o parlamentar estaria atendendo nĂŁo apenas aos interesses do Estado de Roraima, mas tambĂ©m aos seus prĂłprios. Com base no diĂĄlogo entre Francisvaldo e o senador, hĂĄ fortes indĂ­cios de que este parlamentar teria grande influĂȘncia no Governo de Roraima”, diz a PolĂ­cia Federal.

A Haiplan nĂŁo Ă© a Ășnica empresa que teria sido favorecida no esquema da saĂșde, de acordo com a PF. Investigadores encontraram indĂ­cios de direcionamento na dispensa de licitação realizada para a compra de testes de kit rĂĄpido para detecção da covid-19 para trĂȘs empresas – dentre elas, a Quantum Empreendimentos. A Controladoria-Geral da UniĂŁo (CGU) suspeita de sobrepreço no valor de R$ 956,8 mil em um contrato para o fornecimento de kits de teste rĂĄpido.

Defesa

A reportagem enviou uma sĂ©rie de perguntas ao senador Chico Rodrigues e Ă  sua defesa sobre as informaçÔes do inquĂ©rito. Em resposta, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso e Yasmin Handar disseram que ‘o Senador Chico Rodrigues dialoga, diuturnamente, no Ăąmbito de suas funçÔes, com polĂ­ticos, servidores pĂșblicos, empresĂĄrios e outros profissionais com as mais diversas pautas e demandas referentes ao Estado de Roraima’.

“O Senador jamais intercedeu indevidamente em prol de qualquer interesse privado no Ăąmbito de contrataçÔes no Estado de Roraima ou em qualquer outro ĂłrgĂŁo. As investigaçÔes irĂŁo provar que ele nĂŁo cometeu qualquer irregularidade no exercĂ­cio de suas funçÔes. O Senador estĂĄ Ă  disposição das autoridades para esclarecer quaisquer dĂșvidas a respeito dos fatos em apuração”, disse a defesa.

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