A irmã da vítima e ex-esposa de Evandro, Janete Silva da Silva, não se importou em depor na frente do acusado e disse não entender o que aconteceu. “Para mim, minha mãe é minha filha é muito difícil isso (…). Vivi 18 anos e não conheci ele. Não consigo entender o que aconteceu”.
O julgamento do instrutor de dança Evandro Ferreira, que confessou matar a cunhada Elaine Silva da Silva de 52 anos dentro de casa, começou hoje. Foram ouvidas três testemunhas de defesa e apenas uma de acusação pelo Ministério Público.
Evandro estava em fase de separação da esposa, motivada por uma traição dele. “Estávamos em Venâncio Aires, peguei o celular dele para falar com a filha e vi a mensagem da amante dele. Mas eu também estava desconfiada de uma aluna. Mas, acredito que ali estava no início”, declarou Janete. “Pelo extrato do banco, ela chegou a descobrir que ele tinha reservado um hotel para passar o final de semana em Gramado com a amante”, revelou Janete.
O relato foi de que entre julho e setembro ele sumiu três vezes. “Passava dois, três dias fora”. Evandro ficou seis anos no exército, trabalhou como segurança patrimonial e, segundo Janete, “era muito neurótico com segurança”, explica.
Relacionamento com a cunhada foi negado
Segundo Janete, um relacionamento de Evandro com a cunhada é fora de cogitação. “Minha irmã era muito correta. Com certeza, no dia aconteceu alguma coisa e ela foi questionar ele. Tenho três hipóteses: A primeira é que anos atrás ele foi embora e voltou, acredito que no dia ela ficou sabendo e questionou ele. Ele já tinha até transferido o curso pra Cachoeirinha. De certo, avisou ela que ia embora sem se despedir. Ela, como muito certinha questionou ele; A segunda hipótese, ele me disse que não tinha dinheiro nem pra onde ir. Ele pode ter pedido dinheiro para ela. Ela cuidava das finanças do pai e da mãe. Aí ela não quis dar; A terceira é que o carro era de nós três. O carro era das três irmãs e ele quis levar o carro e ela não deixou. Ali aconteceu alguma coisa, pelo que eu conhecia ela. Coloco minha mão no fogo. Conhecia ela há 47 anos. Ela não ia deixar ele sair sem dar uma satisfação”.
O instrutor de dança está preso desde 2018, quando confessou ter matado a cunhada dentro de casa. O corpo dela foi localizado dois dias após o sumiço dos dois, em Gravataí. Já Ferreira foi preso em um hotel de Cruz Alta. “Tiraram meu chão. Eu perdi minha família, minha casa”, finalizou Janete.
Entenda a linha temporal do caso no depoimento de Janete Silva da Silva:
“Desde julho, eu que levava ela para o serviço. A partir daí quando ele começou a estudar. Ele levava a Elaine, eu e minha outra irmã. Lá o acesso a ônibus é muito ruim. No dia do desaparecimento, Elaine era muito regrada e os colegas ligaram pra a Mari, outra irmã, relatando que ela não tinha chegado lá. Ela me ligou, e eu fui para casa. Passei no hospital para ver se tinha outra ocorrência e nada. Em casa estava tudo normal e eu liguei para o Evandro. Ele não me atendeu, liguei para o curso e ele não tinha chegado lá. Cheguei a pensar que fosse sequestro. Pedi para o meu vizinho ver nas câmeras. A gente não tinha em casa e ele tinha.”
“Liguei para o Senac, disseram que igual ele não tinha chego, e eu fui lá igual, pensei que não tinham visto ele na sala. Lá a coordenadora me disse que tinha se despedido no dia anterior, que estava se separando e ia para o interior cuidar do pai. Estávamos realmente em um processo de separação após ficarmos 18 anos juntos. Ele não tinha me falado nada. Éramos amigos antes de tudo, tínhamos uma filha em comum.”
“Na imagem (da Câmera de segurança do vizinho), ele aparece saindo sozinho com o carro. Aparecia só ele. Foi um sufoco, fomos na Polícia Civil registrar a ocorrência.”
“Eu achei que fosse sequestro. Queria bloquear os cartões. Porém, a vizinha da frente tinha câmeras também. Só vimos a noite, após ela chegar do serviço. Nas imagens dela, aparece a mão dele abrindo o porta-malas e ele fechando. Aí ficamos naquela expectativa, passou terça nada, quarta nada. Saímos pra procurar na volta. A gente conseguiu ver o último sinal do celular dele em torno da parada 62. Na quinta, eu vi os extratos do cartão de crédito dele. Vimos onde ele estava gastando. Nos desesperamos com as imagens do porta-malas e sabíamos que tinha acontecendo algo com ela.”
“Na quinta à tarde, me ligaram dizendo que o carro e ela estavam em Gravataí. Cheguei junto com a polícia e eles não me deixaram chegar perto. Queria achar algo para ver se era sequestro. Descobri a noite quem descobriu o carro, e eu me agarrei nele pedindo pra que ele dissesse se ela estava viva ou morta que eu precisava confortar minha família (disse chorando). Ele me disse que a polícia não autorizava, mas que ela estava morta. Depois, um policial que me tirou do local quase me expulsando, pediu desculpas porque ela estava do lado do corpo.”
“Levamos nossos pais para a praia, porque eles não mereciam isso, a mídia estava em cima de nós. Fui em um hospital de Capão da Canoa e vi que ele tinha sido preso.”
Relembre o caso
No dia 11 de setembro, colegas de Elaine estranharam seu atraso para chegar na revenda em que trabalhava. Ela não tinha faltas e era pontual. Sem celular, a empresa alertou a família que tentou falar com Evandro. Ele não atendeu e aí, o desaparecimento dos dois, começou a ser investigado.
Elaine e Ferreira residiam no mesmo endereço, no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha. Ela no andar de cima, com os pais e uma irmã, e Evandro no piso inferior, com a esposa e a filha. Imagens de câmeras próximas da casa captaram o momento em que o instrutor de danças havia deixado a residência em seu Siena vermelho. os dias, ele costumava leva-la até a revenda, a cerca de dois quilômetros dali, e depois seguia para um curso profissionalizante.
Dois dias após o sumiço, o corpo de Elaine foi encontrado em um matagal de Morungava, em Gravataí, ao lado do carro de Ferreira. O Siena estava com o porta-malas aberto, e o corpo dela em um mato, coberto por capim. Perto, estava a bolsa de Elaine, com documentos e dinheiro. Moradores relataram aos policiais que um homem “com as roupas sujas” teria sido visto circulando pela região. Dias após o crime, Evandro foi preso em um hotel de Cruz Alta.