“Não existe Natal na miséria”, afirma mulher que vive sem água encanada

Márcia também precisa de ajuda para colocar comida na mesa.

Márcia Dias, de 50 anos, sente na pele a falta de água encanada, uma dura realidade que se agrava pelo avanço da estiagem. A falta de dinheiro e de apoio lhe tira as esperanças, dia a dia.

Sozinha, acorda em uma casa de dois cômodos que um dia foi de seu avô, perto dos trilhos do trem Linha São José, em Estrela. Em muitas manhãs o olhar consumido pela depressão encontra roupas e louças sujas, acumuladas por não haver água, e o banheiro improvisado na área fica inutilizado. “Não existe Natal na miséria”, declara, às vésperas da celebração que é vista com alegria e naturalidade para a maioria das famílias do Vale do Taquari.

O poço feito pelo avô, que alimentava a casa por meio de canos até a caixa secou, deixando apenas o cheiro de lodo. Por vezes a Administração Municipal ajuda com o abastecimento por meio de caminhão-pipa, mas por ser oriunda do rio a água é restrita para lavar roupas, louça, tomar banho e tratar os cães. A alegria dura pouco, a cada vez, pois o pequeno reservatório tem vazamento.

Márcia começou a trabalhar em fábrica de calçados aos 13 anos, e em décadas seguintes ajudou os pais na roça. Ela diz que as dores na coluna, problemas decorrentes do tabagismo e pressão alta a impedem de trabalhar sequer para tirar o sustento na roça. Desempregada, Márcia ficou sem renda desde que foi encerrado o auxílio emergencial, e agora está na fila pelo Bolsa Família. Recebe alimentos mensais do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para cerca de duas semanas, e o restante os três filhos ajudam como podem, enquanto lidam com as próprias dificuldades.

Apenas Beatriz não está desempregada. Ela mora no centro de Estrela, onde trabalha de diaristas em casas de família após a empresa onde era funcionária fechar as portas. “Peguei o primeiro emprego porque tenho um filho pra sustentar e minha mãe”.

Além de alimentos, quando possível, ela leva garrafas PET com água, o que muitas vezes se torna insuficiente para o consumo. Há oito anos a família pede ao poder público a instalação da rede de água, mas a Administração se declara impossibilitada porque nesta localidade o serviço é da Associação da Água da São José, e o custo é de seis salários mínimos, coisa que foge da realidade da família.

Neste dia 24, após o meio dia, Beatriz e seu filho vão até Estrela para passar o Natal com Márcia, a quem o menino criou grande apreço. Por muitos dias ela cuidou do neto para que a filha pudesse trabalhar. Cada um ajuda como pode.

Pedido de ajuda

Beatriz postou um pedido de ajuda no Facebook para que a mãe tivesse o básico: bombonas de água e alimentos. No entanto, diz, apenas uma amiga se solidarizou. Quem quiser contribuir pode entrar em contato com o telefone dela, pelo (51) 99182-8609. De preferência, pede-se que os doadores levem os mantimentos até a casa de Márcia.

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