RODRIGO BECKER

Rodrigo Becker é jornalista e escreve sobre política, negócios e cidade diariamente neste espaço.

CANOAS | Os personagens e o dia seguinte Ă  noite em que um impeachment foi soterrado

Em noite de muita conversa, articulação e apostas políticas, Cùmara deu voto de confiança à Jairo Jorge e evita processo que poderia lhe custar o mandato e os direitos políticos

Jairo Jorge estĂĄ salvo do impeachment. Por 18 votos a 1, a CĂąmara de Canoas arquivou o pedido de abertura de uma comissĂŁo processante que, ao fim, decidiria sobre a cassação ou nĂŁo do mandato do prefeito. JJ segue afastado do governo por decisĂŁo da Justiça, mas a votação desta terça, 27, na CĂąmara, nĂŁo deixa de ser um alĂ­vio: caso o processo prosperasse, corria o risco nĂŁo sĂł de perder o mandato para o qual fora eleito em 2020, mas tambĂ©m os direitos polĂ­ticos por 8 anos – algo que, em Canoas, nĂŁo aconteceu nem durante o perĂ­odo da Ditadura.

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Jairo nĂŁo esteve na CĂąmara. Quem andou por lĂĄ em seu nome foi o ex-secretĂĄrio de Enfrentamento Ă  Pandemia, Felipe Martini. Advogado, ele centraliza a defesa polĂ­tica do prefeito e conversou com vereadores, presidentes de partido e assessores. A cada um disse o mesmo: “Jairo vai voltar”. O tom era tranquilo e nĂŁo de ameaça; a estratĂ©gia, de construção e nĂŁo de revanche. Ponto para Martini: outras vezes acusado de ausĂȘncia, nesta terça foi um dos avalistas da inegĂĄvel vitĂłria de Jairo diante de um plenĂĄrio que, entre idas e vindas, estava pronto para pregar-lhe uma derrota acachapante.

Foram nessas idas e vindas, aliĂĄs, que surgiram mais personagens desta fatĂ­dica noite de verĂŁo. O Bloco dos 7, por exemplo, formado por MDB, PP, PDT e Novo. AtĂ© o inĂ­cio da sessĂŁo, eles eram tidos como votos a favor da abertura do processo. Airton Souza (MDB), um dos lĂ­deres do grupo, a bem da verdade, jamais manifestou sua posição pessoal a respeito do impeachment. Imaginava-se que a proximidade do grupo com o prefeito em exercĂ­cio Nedy de Vargas Marques implicaria em uma adesĂŁo Ă  comissĂŁo processante, mas nĂŁo foi o que houve. Cezar Mossini (MDB), inclusive foi Ă  tribuna defender Nedy da acusação feita pelos corredores de que estaria por trĂĄs do movimento prĂł-impeachment. “É um homem honrado e de carĂĄter. EstĂĄ cuidando da cidade e jamais se envolveu com essa polĂ­tica calhorda que pede cassação de mandato”, exaltou.

A verdade Ă© que Nedy ‘nĂŁo foi para o jogo’, como lembraram os polĂ­ticos de sempre; herdeiro natural do mandato caso Jairo fosse definitivamente cassado, parte da CĂąmara esperava que o prefeito em exercĂ­cio fosse se envolver pessoalmente no processo – especialmente oferecendo cargos e benesses do governo em favor dos que aceitassem abrir o processo em questĂŁo. Nada disso: Nedy ficou inerte. Avisado por aliados de que o processo estava fadado ao arquivamento, deixou que a CĂąmara tomasse a decisĂŁo que quisesse. Se por um lado a figura de Jairo segue no horizonte como prefeito afastado da cidade, Nedy, por outro, nĂŁo deve nada a ninguĂ©m: em polĂ­tica, um governante pode sentir-se confortĂĄvel em muitos papĂ©is, sĂł nĂŁo no de refĂ©m.

O exemplo de Jonas

Jonas Dalagna – o do Novo, nĂŁo do da mĂșsica de SĂĄ, Rodrix e Gurabyra que morava dentro da baleia – disse que o mais importante era ter como defender cada posição tomada na vida pĂșblica. Teve a sua, nesta terça. Seu voto contrĂĄrio Ă  abertura do processo de impeachment foi justificado com uma experiĂȘncia prĂłpria.

Em 2020, Jonas foi acusado pelo MinistĂ©rio PĂșblico Eleitoral de abuso de poder econĂŽmico na campanha por usar um panfleto ecolĂłgico que, uma vez atirado ao chĂŁo, podia espalhar flores pela cidade. O papel, enfim, continha sementes prontas para germinar. “Fui absolvido, mas o processo levou dois anos para ser encerrado. Se nesse meio tempo pedissem uma comissĂŁo processante e cassassem o meu mandato, quem repararia isso depois?”, questionou. O voto acabou elogiado por eleitores que, mesmo em oposição a Jairo Jorge, enxergaram coerĂȘncia na postura do parlamentar.

Mårcio Freitas, o fiel da balança

O vereador do Avante nĂŁo participou da primeira parte da sessĂŁo e, por pertencer ao mesmo partido do prefeito em exercĂ­cio, era apontado como favorĂĄvel ao impeachment. Entrou no plenĂĄrio defendendo exatamente o contrĂĄrio: conversou com Jonas, lembrando a histĂłria do panfleto com as sementes e uma que aconteceu consigo, em 2008, quando foi detido ao ser confundido com o irmĂŁo. “Injustiça eu nĂŁo desejo para ninguĂ©m”, repetiu.

Era o articulador de plenĂĄrio de Jairo Jorge nĂŁo tinha.

Às nove badaladas do relógio

JĂĄ passava das 21h quando o presidente Eracildo Link pode retomar a sessĂŁo apĂłs sucessivos perĂ­odos de recesso para articulação e conversas polĂ­ticas. O Bloco do 7 foi o Ășltimo a voltar ao plenĂĄrio na noite de terça, jĂĄ com o voto contrĂĄrio Ă  abertura do processo consolidada entre seus integrantes. Apenas Mossini, entre eles, foi o encarregado de subir Ă  tribuna e lembrar da posição de Nedy de nĂŁo envolver o governo na questĂŁo.

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Juares Hoy (PTB) foi o Ășnico que manteve-se firme e votou a favor do processo. Como advogado, lembrou que abrir uma comissĂŁo processante era diferente de cassar o mandato – isto aconteceria, se acontecesse, no final de todo um conjunto de procedimentos, com amplo direito Ă  defesa e ao contraditĂłrio. Rechaçou, ainda, o parecer da procuradoria da CĂąmara que considerou o pedido apresentado pelo advogado Marcelo Fontella inapto Ă  apreciação da Casa e, ao final, sobrou atĂ© para o vereador Jonas. “Tu me procuraste duas vezes para abrir uma CPI e investigar essas questĂ”es e agora vem aqui dizer que Ă© contra?”, contou.

Votação aberta, 18 a 1. Votaram contrårio ao processo os vereadores Airton Souza (MDB), Cezar Mossini (MDB), Jonas Dalagna (Novo), Mårcio Freitas (Avante), José Carlos Patrício (PP), Aloísio Bamberg (PP), Partor Duarte (Republicanos), Vani Piovesan (PT), Maria Eunice (PT), Laércio Fernandes (Podemos), Eric Douglas (PTB), Patetta (PSD), Abmael Fernandes (Solidariedade), Alexandre Gonçalves (PDT), Adriano Agitassamba (PL), Cris Moraes (PV) e Leandrinho (PSD); Gilson Oliveira, do Avante, estava fora do plenårio e votou pelo microfone, contrårio à abertura do processo; o vereador Link (MDB), presidente da Cùmara, só vota em caso de empate e Jefferson Otto (PSD), sobrinho de Jairo, se declarou impedido antes da votação.

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