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Canoas
16 de janeiro de 2025

Antes de ser morto na Penitenciária de Canoas, líder de facção escreveu carta alegando que corria risco de vida

O funcionário da Penitenciária de Canoas que recebeu a carta foi afastado de suas funções

Jackson Peixoto Rodrigues de 41 anos, conhecido como Nego Jackson, escreveu uma carta um dia antes de ser morto a tiros dentro da Penitenciária de Canoas 3 (PECAN 3). No documento, ele pediu para ser transferido para “evitar uma tragédia como nunca ocorrera no sistema penitenciário gaúcho”.

A existência da carta foi confirmada pelo Governo do Estado. O funcionário que recebeu a carta por Jackson está entre os cinco servidores que foram afastados pelo Palácio Piratini.

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No documento, Jackson relata que estava separado apenas por uma portinhola de outros apenados que integram organizações criminosas rivais a dele. “O requerente informa que não tem compatibilidade de permanecer em galerias que contenham integrantes da facção Bala na Cara”, disse Rodrigues em carta escrita de próprio punho, mas em terceira pessoa.

Além disso, o preso alertou para o risco de entradas de armas no Complexo Penitenciário de Canoas e pediu para ser novamente transferido para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC).

“O requerente só quer cumprir seu tempo de pena sem nenhuma alteração no percurso, porém não quer virar uma vítima do Estado, que está subestimando em colocar inimigos de grande rivalidade no mesmo espaço físico, separados apenas por uma portinhola”, disse Jackson em carta (leia a íntegra do documento abaixo).

Apesar de confirmar a existência da carta, o governador em exercício, Gabriel Souza, informou que o Palácio Piratini desconhecia o teor do documento.

“De fato, houve um documento manuscrito pelo apenado entregue a um agente da Polícia Penal que está sendo afastado neste anúncio que faço agora […]. Essa carta teria sido entregue ao seu advogado, advogado do apenado. Portanto, é a informação que temos. Não conhecemos o teor da carta”, relatou Souza em coletiva de imprensa.

Líder de facção é morto a tiros dentro da Penitenciária de Canoas

Jackson Peixoto Rodrigues de 41 anos é o preso que morreu após ser alvo de disparos realizados por outro detento dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (PECAN) 3. O caso ocorreu no último sábado (23). 

O criminoso é conhecido como Nego Jackson. Atualmente, ele é líder de uma facção criminosa que atua em Canoas e em outras cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre. 

De acordo com a Superintendência de Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (SUSEPE), o ataque a tiros teria ocorrido durante a triagem dos detentos. 

Baleado, o criminoso chegou a ser encaminhado para atendimento médico em um hospital da Região Metropolitana. Porém, ele não resistiu aos ferimentos. 

O nome do preso que atirou em Jackson não teve o nome divulgado. Porém, conforme apurado por GBC, ele é integrante de um grupo rival.

Susepe diz que galeria da Penitenciária de Canoas passou por revista

Em nota, a Susepe afirmou que a galeria onde os dois apenados cumprem pena já passou por revista geral do Grupo de Ações Especiais. Além disso, conforme a nota, “a unidade prisional encontra-se segura e sem nenhuma outra alteração”.

A ocorrência também é atendida pela Polícia Civil e pela Brigada Militar (BM).

Leia carta de Jackson Rodrigues Peixoto na íntegra

“Sr.Dr. Diretor da Penitenciária Pecan 3

Assunto: Pedido de muda para outra ala de isolamento na Pecan ou cumprir isolamento na galeria 3D, que contém presos com mesma compatibilidade, onde não abriga presos incompatíveis com o requerente em questão.

Jackson Peixoto Rodrigues, atualmente custodiado na Penitenciária Pecan 3, área de isolamento, com determinação judicial, por 30 dias, vem respeitosamente, consubstanciado no art. 41. XIV, expor e requerer o seguinte:

O requerente informa que não tem compatibilidade de permanecer em galerias que contenham integrantes da facção Bala na Cara.

Sendo assim, solicita que seja dado uma atenção de extrema urgência porque, como é sabido de todos, o requerente é inimigo histórico desse grupo. E, pelo fato de permanecer tão próximo e temer haver alguma falha de segurança, pede que seja dado esta atenção.

Ademais, o requerente fora tirado da Pasc, Penitenciária de Alta Segurança que já possui bloqueadores de celular, onde não corria perigo algum para ser posto numa penitenciária de média segurança, em um isolamento que recentemente fora apreendido rádios e celulares.

Analisando esta questão e a vulnerabilidade que o requerente se encontra, há poucos metros de seus inimigos, concluo que, se teve falhas em entrar rádios e celulares, pode entrar todo o tipo de ilícitos, até mesmo armas.

A análise desse pedido se faz necessária com muita cautela. Uma porque: o isolamento possui presos inimigos no mesmo espaço físico. Duas: recentemente foram apreendidos rádios e telefones arremessados por drones na área de isolamento. Três: se entrou ilícitos aos olhos da segurança, é porque teve falhas. Quatro: o requerente só quer cumprir seu tempo de pena sem nenhuma alteração no percurso, porém não quer virar uma vítima do Estado, que está subestimando em colocar inimigos de grande rivalidade no mesmo espaço físico, separados apenas por uma portinhola.

Sr. Diretor, o requerente não está escolhendo local para o cumprimento de isolamento autorizado. Porém, está pedindo a atenção solicitando outro local de isolamento, devido à vulnerabilidade e facilidade de encostar drones nessas enormes janelas, com intuito de evitar uma tragédia como nunca ocorrera no sistema penitenciário gaúcho.

Diante todo o exposto, com respeito requer:

A) seja analisado o pedido deferido

B) seja enviado uma cópia deste requerimento a exímio Sr. Dr. Juiz de Direito Roberto Coutinho Borba, bem como seja prestado informação ao mesmo se fora apreendido rádios de longo alcance e telefones celular na área de isolamento por membros dos Balas na Cara.

C) seja enviado uma cópia deste requerimento ao e-mail do advogado cadastrado, Sr. Cassyus Pontes, para que tome providências necessárias.

D) seja enviado uma cópia deste requerimento à Defensoria Pública.

E) seja colada uma cópia deste requerimento junto ao Pec do requerente com a finalidade de ocorrer alguma alteração grande, as autoridades foram alertadas.

Termos em que pede deferimento.

 Jackson Peixoto Rodrigues.”

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