RODRIGO BECKER

Rodrigo Becker é jornalista e escreve sobre política, negócios e cidade diariamente neste espaço.

CANOAS | Busato, deputado: do voto auditável à solução para o transporte, as metas do nosso ’embaixador’ em Brasília

De volta ao Congresso depois de seis anos, Luiz Carlos Busato pensa em um mandato que dialogue com os temas estruturantes para o Estado - e, pela primeira vez, não descartou estar na eleição de 2024

‘O vô tá on’. A frase cunhada para a campanha de 2020 nunca foi tão verdadeira. Luiz Carlos Busato, empossado deputado federal no dia 1º, ‘tá on’, muito ‘on’. E, a bem da verdade, parece um guri e não um avô que espera pelo domingo de pijama: animado e cheio de planos, conversou com o blog sobre o que pretende do mandato, a relação com o governo Lula, os planos de longo prazo, passando por 2024, e os mais imediatos.

O primeiro plano é ser líder ou vice-líder da bancada federal gaúcha. É por lá que passam as articulações de projetos e a destinação de recursos para os principais gargalos do Estado. “Quero tratar de obras estruturantes para o Rio Grande, a ampliação da BR-101 e a duplicação de mais trechos da BR-116, que impacta diretamente a nossa região”, conta Busato. Além disso, o deputado pretende dedicar parte do mandato à discussão de outros modais de transporte, como o ferroviário e o naval. “O Polo Naval de Rio Grande precisa ser reativado. Gera empregos, renda, tecnologia para todo o Estado”.

Busato fará parte das comissões de Trabalho e Serviços Públicos e de Transportes – onde pretende, ainda, avançar na discussão sobre um subsídio permanente para o transporte metropolitano. “Tem que ser algo mais definitivo”, comenta. “Não dá para ficar nesse negócio de auxílio a toda hora.” Nesse caso, a experiência como prefeito em Canoas ajudou. “A gente viu isso de perto. Precisa ter uma fonte permanente de financiamento, novas tecnologias”. E adiantou a defesa da adoção de ônibus elétricos nas frotas municipais e metropolitanas, o que poderia baratear o custo da passagem e evitar a emissão de gases poluentes sobre as cidades.

Governo Lula: nem ‘amém’, nem ‘não pra tudo’

Em relação ao governo Lula, Busato se coloca na posição de independente. O União Brasil fez parte da base do Centrão que apoiou a reeleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas se divide entre os que apoiam abertamente o governo e os que preferem ficar na oposição. O ‘independente’ de Busato, aqui, precisa de uma contextualização política. O ex-prefeito é um cara de centro, diria até com um ‘viés’ de direita. É oriundo do PTB de Roberto Jefferson, apoiador de Jair Bolsonaro desde a primeira hora. O rompimento com Jefferson, aliás, se deu não pela posição nacional do ex-deputado carioca, mas pela truculência com que tratou o governador Eduardo Leite, um dos principais aliados de Busato e seu grupo político aqui no Estado. A independência do deputado canoense em relação ao governo Lula mais se parece a uma oposição discreta, que concede voto a favor de pautas que unificam, mas que também marca posição em temas que distanciam.

Um deles, por exemplo, é a retomada da política internacional de Lula baseada no financiamento de investimentos a negócios de empresas brasileiras fora do país com recursos do BNDES. “Estou apoiando um projeto de lei que impede esse tipo de coisa”, comenta Busato. Quer outro exemplo? O projeto 04/2023, do deputado Mendonça Filho, que trata do que o Centrão vem chamando de ‘liberdade de expressão’. “Somos a criação de uma procuradoria no governo para regular a opinião do cidadão”, afirma.

A procuradoria em questão está sendo pensada pelo governo na esteira dos atos anti-democráticos que destruíram as sedes dos três poderes em Brasília no dia 8 de janeiro – atos que Busato assistiu pela TV, de Canoas. A ideia é que haja um órgão de Estado que identifique manifestações com potencial golpista e terrorista antes que o descontrole na difusão desses assuntos, especialmente nas redes sociais, chegue a níveis perigosos. O quanto isso pode ser confundido com censura? Veremos. “Obviamente sou contra essa barbárie que aconteceu em janeiro em Brasília. Mas não dá para justificar com isso cercear a opinião das pessoas. Isso é um direito constitucional sagrado, inerente ao ser humano e à própria democracia”.

Voto impresso: olha ele de novo

Outro tema de estreita relação com o discurso bolsonarista e que Busato abarca sobre o guarda-chuva do seu mandato é o polêmico apelo pelo voto auditável. “Não é questão de ser um tema bolsonarista ou não”, avisa. “Não ponho em dúvida o resultado da última eleição, por exemplo. Mas vejo coerência na questão do voto auditável”. Inclusive, acredita que um sistema simples de impressão do voto para conferência do eleitor e depósito em uma urna lacrada, para posterior contagem em caso de necessidade, resolveria o problema.

Eleições 2024: o papel de Busato

A pergunta final da conversa com o blog não poderia ser outra: e em 2024, teremos Busato nas urnas de Canoas? A resposta, pela primeira vez, foi um ‘quem sabe’. “Eu sei que terei um papel a desempenhar em 2024, mas não necessariamente como candidato. É cedo para falar”, afirma.

Não deixa de ter razão. Recém empossado deputado federal, Busato não quer transformar seu primeiros meses de mandato em uma campanha antecipada pela Prefeitura de Canoas. Até porque os planos do ex-prefeito podem ficar amarrados por Brasília por mais tempo. Com 59 deputados federais, o União Brasil já pensa em ampliar a bancada de senadores – hoje conta com 10. Busato é ‘ficha 1’ para concorrer a uma vaga ao Senado em 2024 mas, para isso, precisaria por de lado qualquer plano de concorrer à eleição municipal. “Há tempo para todas as conversas. Agora, quero me dedicar ao mandato de deputado. Em 10 anos no Congresso, fiz amizades e estou contente em voltar. O ambiente aqui está muito amistoso, inclusive no partido, que me conduziu à vice-liderança da bancada”, conta.

Aguardemos.

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