Ăs 16h15 do dia 1Âș de novembro de 1968, o aviĂŁo VC-10 da Real Força AĂ©rea BritĂąnica aterrizava no aeroporto de Recife, em Pernambuco, para primeira etapa da Ășnica viagem da Rainha Elizabeth II ao Brasil. ApĂłs percorrer seis cidades, conhecer como eram feitas as pesquisas sobre o cultivo do cafĂ©, inaugurar o Museu de SĂŁo Paulo, praticar equitação e assistir a uma partida de futebol com a presença de PelĂ©, a monarca britĂąnica falecida aos 96 anos na tarde desta quinta-feira, 8, deixou o paĂs a bordo da mesma aeronave – mas com um destino ‘extra-agenda’: uma missĂŁo diplomĂĄtica e pouco conhecida ao Uruguai. Antes de chegar ao paĂs portenho, no entanto, o voo de Elizabeth teria feito um pouso tĂ©cnico na Base AĂ©rea de Canoas e Ă© isso que, afinal, motiva este post.
O blog tentou confirmar a informação com dois brigadeiros que jĂĄ comandaram a Base, mas nĂŁo foi possĂvel garantir que esse pouso, de fato, tenha ocorrido. Um deles disse que jĂĄ tinha ouvido essa histĂłria no tempo de comando e que, se aconteceu, hĂĄ registros detalhados nos arquivos da AeronĂĄutica. AcessĂĄ-los, porĂ©m, nĂŁo Ă© tarefa fĂĄcil: sem autorização expressa do alto comando em BrasĂlia, ninguĂ©m mexe nesses papĂ©is.
O sigilo sobre essa pouso provavelmente se deve Ă visita extraoficial da monarca ao Uruguai naquele distante 1968. O Britannia, o iate real que acompanhou e transportou a rainha em seus deslocamentos no Brasil, ancorou em MontevidĂ©u no dia 12 de novembro de 1968 – no mesmo dia em que ela teria passado cerca de 12 horas na capital uruguaia. No dia 12 de dezembro, exatamente um mĂȘs depois, o presidente uruguaio Jorge Pacheco Areco, jornalista e diplomata, autorizou voos comerciais entre a capital portenha e as Ilhas Malvinas – um posto avançado do impĂ©rio britĂąnico no Oceano AtlĂąntico e motivo de uma disputa entre a Inglaterra e Argentina, dĂ©cadas depois.
Naquela Ă©poca, era comum que as aeronaves fizessem voos longos, como o que a rainha teria feito entre o aeroporto Santos Dummond, no Rio de Janeiro, e MontevidĂ©u com uma escala no meio do caminho. CondiçÔes de clima implicariam nos cĂĄlculos de autonomia da aeronave e, por isso, o ‘pouso tĂ©cnico’ poderia ser recomendado; nĂŁo necessariamente para um conserto, mas para reposição de combustĂvel, por exemplo. Lembrando que a Refap, que produz atĂ© hoje combustĂvel para aviação, começou a operar oficialmente em setembro daquele ano e, portanto, poderia ter serviço ao aviĂŁo real. Essa seria a razĂŁo para o sobrevoo da rainha sobre os cĂ©us de Canoas.
Um dos brigadeiros consultados pelo blog, no entanto, avalia que a histĂłria do pouso Ă© lenda. Para ele, o VC-10 cruzaria o oceano em 1968 sem a necessidade de reabastecimento e nĂŁo teria problema algum de completar uma viagem entre o Rio e MontevidĂ©u sem escalas. “Se Ă© que foi mesmo ao Uruguai”, comenta, pedindo apenas para ter o nome preservado. “Ă mais provĂĄvel que ela tenha ido Ă s Malvinas. Mesmo assim, nĂŁo tenho informação de que tenha pousado em Canoas ou Porto Alegre”.
Verdade ou lenda, a curiosidade fica: serĂĄ que um dos Ăcones mais populares do mundo, mais conhecida do que qualquer celebridade, cruzou nosso cĂ©u hĂĄ 54 anos?